[Resenha] Labirinto - A Magia do Tempo
- Claudia Del Santo
- 12 de out. de 2016
- 5 min de leitura

Se você nunca assistiu Labirinto - A Magia do Tempo, não sabe o que está perdendo. É um filme criado, idealizado, dirigido e interpretado por gênios. Acredite em mim, uma rápida pesquisa na internet confirma o que estou dizendo. Estou convicta de que o fracasso de bilheteria na estreia do filme se deu pelo fato de a obra ser muito inovadora para a época e as pessoas não estavam preparadas para metáforas tão inteligentes, ou não eram capazes de enxergar o verdadeiro enredo por trás daquele contado na trama. Amo esse filme! Assisto frequentemente e sou capaz de pronunciar as falas junto com os personagens. Assim como muitos de vocês assisti na infância e para mim, na época, era só mais um filme de fantasia, embora, tenho que confessar que o Rei dos Duendes me assustava mais do que aqueles monstrinhos horrorosos. Na minha mente infantil e ingênua aquele homem não era humano; não era como o resto de nós, e só Deus sabe o quanto eu estava certa, mesmo tão jovem. Rá, rá! Pois bem, fica o meu conselho para você que nunca assistiu não perder mais tempo.
Tanto o livro, quanto o filme, contam exatamente a mesma história, a de uma garota chamada Sarah (Jennifer Connely), de 15 anos, teimosa e mimada, que não aceita dividir seu pai com seu meio irmão Toby. Numa noite chuvosa, Sarah está especialmente revoltada por ter que ficar de babá do irmãozinho e invoca os duendes para levar o bebê, seguindo o que diz o livro que ela está lendo, que se chama Labirinto. Acontece que os duendes realmente levam o garotinho e Sarah se dá conta da besteira que fez e tenta voltar atrás do pedido, implorando para Jareth, Rei dos Duendes (David Bowie) devolver o irmão. É obvio que não seria tão fácil, mas Jareth dá uma opção para Sarah: se ela conseguir atravessar o labirinto, repleto de “perigos indizíveis e inúmeras dificuldades” e chegar ao castelo atrás da cidade dos duendes, em 13 horas, ela pode recuperar o irmão. Essa é a trama principal. Sarah aceita o desafio e inicia sua jornada para recuperar o bebê.
O filme é mágico, todo aquele figurino, em especial o do Rei dos Duendes, as músicas e os bonecos que contracenam com Sarah é algo fantástico. Embora seja um filme antigo, não deixa a desejar em momento algum, e tenho que deixar claro, David Bowie está perfeito no papel. Ele é inteligente, cruel, malicioso, intrigante, lindo e sempre que aparece em cena, todas as outras coisas perdem a relevância. Ele domina a cena como ninguém, com suas falas e sua presença marcante. Embora seja o primeiro papel de Jennifer Connelly, a garota tem uma beleza tão singular e tanta doçura, que estou certa de que o papel dela não teria o mesmo impacto se interpretado por outra atriz.
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O livro é realmente um bônus e precisa ser lido por quem gosta do filme, todavia, se alguém que não tiver assistido decidir ler primeiro, não sofrerá nenhum prejuízo (exceto não ver o Bowie lacrando como o Rei dos Duendes e ouvir as canções que ele compôs especialmente para a trama).
Muito bem, agora vamos falar sobre o livro Labirinto escrito por A.C.H Smith. Esse não é um livro atual, pelo contrário, ele foi lançado depois do filme, há 30 anos, contudo, só foi traduzido para nosso idioma agora, em comemoração aos 30 anos do filme. Vou começar pela edição da Dark Side, que é uma obra de arte. Gente, que cuidado que eles tem com tudo! A qualidade do papel, da diagramação, da capa... Estão de parabéns pelo capricho. Da próxima vez que você passar por uma livraria, veja os livros dessa editora e tente não levar um pra casa. Não dá para não ter um exemplar na estante. O capricho é tanto, que até o marca página que vem com o livro faz a mão tremer. Que orgulho! E se você, assim como eu, é fã do filme, vai notar logo de cara que a capa do Labirinto é a mesma, exatamente a mesma capa do livro que a Sarah lê no filme! É muito amor.
O livro dá aquela aprofundada nos personagens. Sarah se torna mais humana, por que ela se confronta internamente com o ciúme que sente do irmão, e com os sentimentos ruins que isso causa nela. Mostra como a garota tenta lidar com isso. Mostra mais detalhadamente o rancor que ela tem da madrasta e como ela se sente ignorada pelo pai. Para Sarah, Toby tem tudo, e ainda quer roubar as poucas coisas que lhe restam, como seu ursinho Lancelot. Vemos o quanto ela admira a mãe, uma atriz e quer seguir os passos dela. Ela estima também o novo namorado da mãe, coisas que não são enfatizadas no filme. Outra coisa que gostei muito foi saber da preocupação que Jareth tem com a idade, e a esperança de que Toby o substitua, sendo o próximo Rei dos Duendes. Ele sabe que está cercado de duendes bobocas e incompetentes. Mas não posso negar, que o que mais gostei foi a maior exploração do romance, que é tão sutil no filme. Vemos no livro um Jareth empenhado em seduzir Sarah, com sua presença que visivelmente perturba a menina, com os sonhos dela ou com qualquer coisa e o Rei realmente mexe com a mocinha.
A parte alta do livro para mim, foi quando Jareth afirma, por duas vezes, que Sarah não entendeu nada, que ela não desvendou os enigmas do Labirinto, mas o leitor sim. Cada desafio que a garota supera nessa jornada, é um degrau que ela sobe rumo ao amadurecimento. A menina que saí do labirinto não é a mesma que entrou lá. Ela percebe que o pai tem se esforçado para estar ao lado dela e a mãe a trocou por um sonho, justamente o que Rei tentou barganhar em troca de seu irmãozinho, mas ela foi forte o suficiente para escolher a família. Sarah, mais madura, entende que o apego que tem com objetos e brinquedos a impede de crescer. O livro é uma coleção de lições de vida, disfarçados de perigos mortais. Todas as provas pelas quais Sarah teve de passar a refinou. No final das contas o vilão é um herói, que se transforma numa linda coruja branca, que nada mais é do que o símbolo da sabedoria.
É uma delicia de livro. Com certeza vou ler muitas e muitas vezes. Foi uma ótima aquisição. (Livros sempre são boas aquisições, concorda?) E como se tudo isso não fosse o bastante, depois da história, somos presenteados com o Diário de Criação do Jim Henson, mostrando como o gênio deu vida a essa história, o passo a passo de sua elaboração. Temos ainda uma galeria de ilustrações de Brian Froud, com os desenhos dos duendes e das criaturas mágicas do labirinto.
Então é isso. Se jogue nos perigos do Labirinto sem medo!
ヽ(^。^)丿
Cláudia Del Santo
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