[Resenha] O Mundo de Sofia - Jostein Gaarder
- Luana Alves
- 2 de dez. de 2016
- 4 min de leitura
“Faço o que posso para que você conheça as suas raízes históricas. Só assim você se tornará um ser humano de verdade. Só assim você se tornará mais que um primata vestido. Só assim você evitará ficar flutuando no vácuo.”
Em dias que muito se discute sobre a Reforma no Ensino Médio, e disciplinas como Sociologia e Filosofia são consideradas descartáveis para a formação dos jovens, venho, na contramão desta proposta de “melhoria”, defender o “Amor ao Saber” – definição etimológica da palavra filosofia.
Sendo bastante honesta, meu primeiro contato com a história da filosofia se deu por meio do livro O Mundo de Sofia. Assim, passei muitos e muitos anos sem sequer considerar a falta que me fez ou a importância que teria na minha vida e em quem eu seria hoje se tivesse cursado esta disciplina no Ensino Médio, por exemplo.
O Mundo de Sofia foi, sem dúvida, a leitura que fiz este ano (e em tantos outros) que mais acrescentou, somou, me modificou. Mas, antes que eu comece com os elogios à obra, vamos à sinopse:

TÍTULO: O Mundo de Sofia
AUTOR: Jostein Gaarder
ANO DE LANÇAMENTO: 1991–Noruega / 2011–Brasil
EDITORA: Seguinte
PÁGINAS: 551 + Índice remissivo
GÊNERO: Romance / Didático

Sofia, uma jovem norueguesa que está prestes a completar 15 anos, começa a receber cartas anônimas com perguntas do tipo: Quem é você? De onde vem o mundo? A cada nova carta, mais um lição de filosofia é aprendida. Simultaneamente com os questionamentos filosóficos, Sofia passa a receber também postais vindos do Líbano e destinados à Hilde Møller Knag, que coincidentemente fará aniversário no mesmo dia que ela.
Alberto Knox, professor de filosofia de Sofia, se esforça em ajudar sua pupila a desvendar os grandes mistérios da humanidade e a descobrir de que modo eles estão relacionados com um certo major da ONU e Hilde.
***
O Prof. Alberto Knox é um exímio educador. De forma cronológica a partir de 500 e pouco A.C. ele fala a respeito das principais vertentes filosóficas. Demócrito, Sócrates, Platão, Aristóteles e tantos outros nomes de quem eu já havia ouvido falar, mas sabia tão pouco, são pormenorizados. Claro que o autor (gênio pra caramba!) não se demora demais em cada um dos filósofos e nem destrincha completamente a posição filosófica de cada um sobre todos os assuntos que eles abordaram. Afinal, é o romance da História da Filosofia, tem coisa demais a ser dita e poderia ser tornar muito maçante para leigos. Mas, longe de ser enfadonho, Jostein Gaardner fez uma compilação fascinante. Percorremos toda a história, desde antes de Cristo, passando (de uma forma surpreendentemente exata [diz alguém que já estudou a Bíblia minuciosamente]) pelo nascimento de Jesus e como isso impactou a sociedade humana e passamos rapidamente por todos os períodos histórico-culturais: A Idade Média, a Renascença, o Barroco, o Iluminismo e o Romantismo, até chegarmos ao século XX.
(A louca dos post-its. Marcações e índice remissivo necessários para voltar muitas vezes nas informações mais relevantes)
Mais do que uma rápida passada pela história, somos levados a pensar filosoficamente (e aí, amigo, está um grande aprendizado a ser levado para vida!). O enredo é construído envolto em mistérios (tal qual a história da humanidade) e somos alertados a todo momento a não tirar conclusões precipitadas, a questionar, a desafiar a realidade que conhecemos. Quem é Sofia, quem é Hilde e de que modo a existência delas estão interligadas é uma parte sensacional! A princípio, julguei as personagens muito rasas. Mas, quando as coisas começaram a fazer sentido (a partir da página 304), engoli cada uma das críticas que havia feito a respeito das personagens e tive que me curvar diante da maestria narrativa de Gaardner. A falta de complexidade das persongens e diálogos inverossímeis são justificáveis. Aguente firme, não desista da Sofia e verás. Nunca havia lido nada do tipo, uma mistura entre Onisciência seletiva múltipla (a narração é dividida entre Hilde e Sofia) e Autor onisciente intruso (repleto de ironias românticas). Admiração pela construção do romance é pouco, sinto reverência. E o mais legal de tudo é que amei não só como estudante de letras/literatura, mas como uma aprendiz de filosofia. Fui levada a questionar as minhas verdades, que são tão frágeis. Fui obrigada a admitir que julguei precipitadamente, que supus errado, que há um longo caminho para que eu aprenda a pensar filosoficamente.
Bem importante colocar que você não pode ter pressa para terminar a leitura. Levei meses, e, geralmente, levo dias. Mas, como um livro didático, você precisa parar para refletir no que está lendo; do contrário, será uma leitura vã.
Aprendi muitas coisas. Vi, inclusive, que muitos dos meus pensamentos e frases soltas eram filosóficas (Fiquei muito orgulhosa de mim!). Foi desafiador analisar minhas crenças à luz da razão. Foi acalentador descobrir que estou no caminho certo (Se bem que isto é “das Ding für mich” (a coisa para mim) e não “das Ding an sich” (a coisa em si)).
Mais do que recomendo, te empresto (ou não, depende. Rs). Leia! É uma obra transformadora. E quem será você depois?
♥(ノ´∀`)

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