[Resenha] Peter Pan - J.M Barrie
- Claudia Del Santo
- 9 de mai. de 2017
- 4 min de leitura
“Todas as crianças crescem, menos uma.”
Com essa frase impactante e que, sem dúvida, é um dos melhores inícios de narrativa de todos os tempos, somos introduzidos a história de Peter Pan, que já foi exaustivamente recontada em peças de teatro, animações, produções cinematográficas, musicais… A verdade é que pouquíssimas pessoas se interessam em conhecer a história que originou tantas adaptações. Confesso que eu estava satisfeita com a história que conhecia através da animação da Disney que assisti na infância e com o filme “Peter Pan” (que amo) de 2003, estrelado por Jeremy Sumpter como Peter, Rachel Hurd-Wood como Wendy e o aclamado Jason Isaacs como Capitão Gancho. Acontece que ganhei de presente do maridon aquele Box da editora Zahar (cuja as letras brilham no escuro), que traz clássicos de bolso em edições de luxo e me apaixonei, especialmente, pela edição de Peter Pan e tive que ler.
No começo do livro tem uma breve apresentação sobre o autor e a história. Descobrimos ali que o irmão de J. M Barrie (autor) morreu ainda criança decorrente de um acidente com patins. Essa fatalidade marcou muito J.M Barrie, que sempre se lembraria do irmão como um menino que não chegou a crescer. Foi a partir dessa perspectiva que J. M construiu a trama de Peter Pan.
A história é contada em terceira pessoa por um narrador onisciente de uma maneira muito sedutora e interativa, tornando impossível que o leitor não se envolva com a trama.

“Uma coisa que eu ia gostar muito de fazer é contar para ela, usando o poder que só nós autores temos, que as crianças estão voltando, que vão mesmo estar ali na quinta-feira da semana que vem.”
Tudo começa na casa do Sr. e Srª Darling, que possuem três filhos: Wendy, João e Miguel. A babá das crianças é uma cadela chamada Naná.
O livro nos conta que à noite, durante o sono das crianças, as mães organizam o mundo imaginário de seus filhos como roupas em uma gaveta e que toda a criança tem uma Terra do Nunca particular e vive nela suas aventuras infantis. A Srª Darling passara a encontrar com muita frequência o nome Peter Pan na mente de seus filhos, em especial na imaginação de Wendy.
Uma noite, após Srª Darling colocar seus filhos para dormir e lhes contar uma história, ela própria adormece. A mãe acorda com um garoto dentro do quarto, que range seus dentes de leite para ela. O menino vinha da Terra do Nunca só para ouvir as histórias que a mãe contava para as crianças. Srª Darling expulsa aquele intruso do quarto, mas fecha a janela de forma tão abrupta que a sombra do menino se solta dele. Não demora muito até que Peter venha buscar sua sombra, mas ele faz isso numa noite calculada, pois os pais das crianças saíram e a cadela/babá esta presa à casinha.
Peter acorda Wendy e a convence a voar com ele até a Terra do Nunca (Que é a condensação do imaginário de todas as crianças).
Wendy, por sua vez, persuade João e Miguel a seguirem aquele curioso menino também.
O que mais me surpreendeu na obra foi descobrir que Peter Pan não é uma história para crianças, mas sim uma história sobre crianças. Isso explica o porquê de muitas cenas serem descartadas nas adaptações, pois a obra está longe de ser pedagogicamente correta.

“Mas é claro que Peter se importava, sim, e muito. Sentiu tanto ódio dos adultos, que estavam estragando tudo como sempre, que assim que entrou em sua árvore respirou de propósito bem rápido e curto, fazendo mais ou menos cinco respirações por segundo. Peter fez isso porque, segundo diz um ditado da Terra do Nunca, sempre que você respira, um adulto morre; e ele estava matando adultos o mais rápido possível, só para se vingar.”
É claro que isso não tira o brilho da história, pelo contrário, fiquei ainda mais fascinada pela genialidade do autor.
Outro ponto positivo, que não lembro de ver nos filmes, é sobre a criação dos personagens. Desde os meninos perdidos, que foram muito bem trabalhados e caracterizados no livro – é possível conhecê-los por nome e personalidade, bem como o próprio Capitão Gancho, que tem uma construção de fazer inveja para muitos vilões por aí. A Sininho, aquela fadinha que a Disney te convenceu de que é puro amor, na verdade é invejosa, ciumenta e perversa. Rá!
A Wendy ganhou definitivamente meu coração. O autor conseguiu passar muito bem a ideia de que as meninas amadurecerem antes dos garotos. A mocinha da história me surpreendeu diversas vezes.
Já o aclamado Peter Pan é um personagem muito mais profundo, ambíguo e traiçoeiro do que os apresentados nas adaptações, o que fez dele ainda melhor no meu ponto de vista. Peter Pan, para mim, é a personificação da infância, com toda sua doçura e inocência, mas também com a arrogância, egoísmo e “aquela” pitada de maldade que os pequenos possuem, embora os adultos teimem em só ver bondade nas crianças.
O que mais refleti depois que li a última página de Peter Pan foi a respeito da maternidade e como as mães são fundamentais na formação dos filhos.
Essa era uma leitura que eu não pretendia fazer, mas me arrependo por não ter feito antes. / Oi?

A edição da Zahar é top, como já dito. A capa dura tem um efeito meio metalizado que não dá para ser captado em fotos, infelizmente. A diagramação é um encanto também. O livro é pequeno, por ser de bolso, mas é uma graça. É o livro mais bonito do box. E segundo pesquisas, a Zahar tem uma edição grande e comentada da obra, cuja capa é verde. Soube também que a editora Martin Claret lançou uma edição de Peter Pan que está agradando bastante os leitores desse meu Brasel. Então é só escolher a edição que mais te agrada e voar para a Terra do Nunca, com esses personagens incríveis, pois não é a toa que a obra é um sucesso. Amei conhecer a história original.
Um dedal para vocês! Ops, quero dizer, um beijo!!! rs.
Câmbio, desligo.
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