[Resenha] Perto do Coração Selvagem - Clarice Lispector
- Luana Alves
- 1 de dez. de 2017
- 3 min de leitura
Hey!
Como você está? Primeiramente, peço perdão pela longa ausência. Não tem sido fácil conciliar todas de mim e tenho certeza que você entende o que é desejar ter mais tempo para ler por pura diversão. Veeem férias, vem! Sem mais delongas, estou aqui para comentar sobre um livro que ficou algumas semanas na minha cabeceira. Da diva magnânima suprema, que leva o crédito por muitas frases que não são dela, Clarice Lispector.

Perto do Coração Selvagem foi seu primeiro romance, publicado em 1944 e de cara levou um prêmio: Melhor Romance de Estreia. Diva que é diva já mostra a que veio de primeira, né?
Já resenhei A Hora da Estrela e minha opinião sobre ele você encontra AQUI. Babei horrores na escrita da mulher e estava com a expectativa bem alta em relação ao segundo livro dela que lia.
Com sua característica escrita introspectiva, Clarice dá vida à Joana. Perto do Coração Selvagem é sobre esta enigmática personagem, que passa todas as páginas tentando se decifrar. A narrativa não é linear, ora percebemos uma Joana criança, ora uma mulher casada. Em certos momentos o narrador nos conta a história pela perspectiva de Joana, mas em outros, pelos olhos de Otávio, seu marido.
A história é extremamente curta. A vida de Joana não é cheia de reviravoltas e aventuras, de modo que há pouco para contar. Se o fosse fazer, terminaria em 3 linhas. O que rende as 173 páginas é a mente dela. Joana tenta achar um significado em cada minúscula coisa que acontece e narra tudo minuciosamente, cada pensamentinho descabido é descrito e valorizado. Sim, é cansativo (pra CARAMBA). Imaginei que depois de tanta meditação, Joana fosse ter uma espécie de epifania sobre seu papel no mundo, sobre quem ela era ou que deveria fazer. E que o encontro dela seria definitivo para o leitor que aguentou viver na mente dela por tanto tempo. Mas, a busca dela vai para além da página final.

Já faz um tempo que tenho a convicção de que quanto mais simples (e não me refiro à posses materiais ou à inteligêcia) a pessoa, mais verdadeiramente feliz ela é. Joana veio para confirmar minha tese. Como ser feliz com a mente tão turbulenta? Como fazer alguém feliz quando se está sempre à espera de algo e sempre insatisfeita?
Isso não quer dizer que odiei a leitura. Foi cansativa e não me apeguei às personagens, porém, tudo isso saiu da cabeça de umas das escritoras brasileiras mais importantes do Séc. XX. Há quotes geniais (claaaaaro!). Há trechos divertidos. Há muita reflexão que vale a pena ser feita.
Meu livro é da Coleção Folha - Mulheres na Literatura. Capa dura, arte da capa super em harmonia com o conteúdo da obra, folhas de uma qualidade excelente e aquele precinho que deixa todo leitor feliz.
Alguns quotes só porque é Clarice, né?
"E sempre no pingo de tempo que vinha nada acontecia se ela continuava a esperar o que ia acontecer, compreende?" - 10
"Talvez fosse apenas falta de vida: estava vivendo menos do que podia e imaginava que sua sede pedisse inundações." - 16
"O que importa afinal: viver ou saber que se está vivendo?" - 59
"Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome." - 60
"É preciso que eu não esqueça, pensei, que fui feliz, que estou feliz mais do que se pode ser. Mas esqueci, sempre esqueci." - 61
"A plenitude tornou-se dolorosa e pesada e Joana era uma nuvem prestes a chover." - 84
"É que tudo o que eu tenho não se pode dar. Nem tomar. Eu mesma posso morrer de sede diante de mim. A solidão está misturada à minha essência." - 153
Minha nota (para trama, não para a escrita):

Como todas as obras da Clarice são super aclamadas, entenderei se você não concordar com a minha opinião. Eu posso aceitar isso e meu coração continuará aberto. Deixa seu comentário, vou amar saber o que você achou.

Comments