[Resenha] O Ódio que Você Semeia - Angie Thomas.
- Claudia Del Santo
- 11 de jan. de 2018
- 4 min de leitura
Já leram alguma história cuja mensagem está completamente escancarada? O Ódio que Você Semeia é um livro que aborda, sem suavizar, temas como preconceito, segregação racial, desigualdade social, violência, abuso de poder, dependência química, tráfico, gangues, manipulação da mídia e todo o tipo de injustiças. Mas não é só de temas pesados que o livro é feito; também foca nos benefícios de uma boa convivência familiar, a importância dos amigos para superar tragédias e o mais importante: a coragem necessária para não se deixar calar, especialmente quando sua voz é a única que pode ser ouvida.

“Nós deixamos as pessoas dizerem coisas, e elas dizem tanto que se torna uma coisa natural para elas e normal para nós.
Qual o sentido de ter voz se você vai ficar em silêncio nos momentos que não deveria?”
Título: O Ódio que Você Semeia
Autor: Angie Thomas
Páginas: 376
Editora: Galera Record
Gênero: Young Adult, Ficção Juvenil Americana.

“Era uma vez um garoto de olhos castanhos e covinhas. Eu o chamava de Khalil. O mundo o chamava de bandido”.
O livro é narrado em primeira pessoa por Starr, uma garota negra de 16 anos que mora numa região pobre, dominada por gangues e pelo tráfico de drogas, mas que estuda num bairro distante, numa escola particular onde o que predomina são estudantes brancos e de classe média e alta.
Embora não tenha o hábito de frequentar as festas de seu bairro, Starr acaba acompanhando uma amiga numa dessas festas e aceita a carona de Khalil (um amigo de infância da mesma idade que a dela) na hora de voltar para casa. É então que eles são abordados na estrada por um policial, por conta de um farol quebrado.
Starr sabe muito bem como negros devem agir numa situação como esta. Seu pai a fez decorar alguns padrões de comportamento desde que era criança:
“Mantenha as mãos à vista.
Não faça movimentos repentinos.
Só falem quando falarem com você.”
A garota só espera que Khalil também conheça o procedimento. Infelizmente o rapaz não segue o protocolo e é assassinado a queima roupa com três tiros bem na frente de Starr.

A história, então, passa a girar em torno dos conflitos da Starr. Ela sempre apoiou protestos em objeção a violência indiscriminada contra negros, mas agora que é a única testemunha do assassinato de Khalil, tem medo de se expor e virar alvo da polícia e das gangues. E a família da garota, de fato, passa a receber ameaças.
Starr nunca se incomodou em namorar um cara branco e rico, mas a tragédia mexe tanto com ela que depois do ocorrido seu namorado a faz lembrar do policial que matou Khalil e ela se sente traidora de sua raça por estar com ele. A garota também passa a se aborrecer com os comentários “inocentemente” racistas de seus amigos. E a protagonista, por fim, chega ao seu limite quando a mídia apresenta o policial como um coitadinho e Khalil como um marginal, culpando-o pelo próprio assassinato. Até os investigadores estão mais preocupados em encontrar justificativas para o ocorrido do que a verdade.
O livro é dividido em cinco partes, sendo que a primeira é o assassinato e a última a decisão final do juri sobre o caso Khalil.
A verdade é que esse livro é indispensável e deve ser lido por todo mundo. É a famosa leitura obrigatória. Se você é professor, incentive seus alunos a lerem, faça debate em sala sobre o tema, mobilize os jovens a ter contato com essa história. As referências estão ótimas, desde o Partido das Panteras Negras, o movimento Black Lives Matter, a expressão “THUG LIFE” do rapper Tupac, que significa The Hate You Give Little Infants Fuck Everbory – que dá título ao livro; e até a série Um Maluco no Pedaço.
Felizmente os direitos da obra já foram comprados e as filmagens do longa já começaram, afinal o cinema atinge um público maior e todos precisam conhecer essa história. Starr será interpretada por Amandla Stenberg – aquela garotinha Rue que nos fez chorar em Jogos Vorazes e que também foi a protagonista da adaptação de Tudo e Todas as Coisas. Já estou ansiosa para assistir.
Se eu ainda não te convenci a dar uma chance para a obra, saiba que O Ódio que Você Semeia ganhou dois prêmios do Good Reads em 2017: Autor Estreante e Melhor Jovem Adulto. Tá bom pra você?
O livro só não levou cinco estrelas pois em alguns momentos a protagonista me irritou agindo com muita imaturidade para alguém de sua idade.
A edição da Galera Record está perfeita, a capa é linda, folhas amareladas, fonte em tamanho confortável e diagramação simples, porém funcional.
Essa é uma trama que vale a pena ser lida por ser desconcertante, profunda, oportuna e dolorosa. Um livro que provoca reflexão, discussão e mudanças de atitude. Ensina que a união pode fazer diferença e que nada deve nos calar.
“Às vezes você pode fazer tudo certo, e mesmo assim as coisas dão errado. O importante é nunca parar de fazer o certo.”

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