[Resenha] A Garota do Orfanato Sombrio - Temple Mathews
- Lucas Gabriel
- 8 de nov. de 2018
- 4 min de leitura

Com uma premissa excelente a história de Echo Stone começa da maneira mais sombria possível: ela acorda num lugar desconhecido, escuro e aparentemente sozinha. Até que percebe que existem outras crianças à solta pelo prédio sinistro. De início parte delas faz de tudo para assustar Echo que, pela sua situação atual frágil, chega a entrar em pânico.
Na contracapa do livro o leitor descobre que sim, ela está morta assim que a história se inicia (Isso não é spoiler). O problema é que a protagonista demora a descobrir isso. Echo leva entorno de cem páginas (o livro tem trezentas) para entender que realmente está morta. Creio que se a informação da contracapa não estivesse lá tornaria essa experiência de descobrir sua morte junto com a protagonista muito melhor. Mas como já sabemos isso antes de iniciarmos a leitura fica difícil ser preso por sua ignorância.
Nesse caso a culpa não é nem da escrita ou narração em primeira pessoa, mas sim da informação da contracapa, que joga todo o suspense das primeiras cem páginas no lixo. Passando esse “primeiro ato” descobrimos que as pessoas assassinadas permanecem com seus espíritos na Terra até que resolvam as pendências de sua vida. Para os assassinados a maior pendência é descobrir seu assassino e fazê-lo pagar por isso – quando falo em “descobrir” é porque eles perdem a memória ao morrer.
A partir desse ponto temos três eixos que a história leva: Quem matou Echo e por quê? Como ela vai resolver as pendências com sua família e namorado que ainda estão vivos? Como será a interação dela com os fantasmas do Orfanato?
Novamente a premissa é boa, mas o desenvolvimento deixa a desejar. Antes de mais nada a lista de suspeitos dela é bem frágil, logo de cara consegui prever quem seria o assassino e, advinha, acertei! Isso acontece não porque a história seja ruim, mas sim porque o mistério é superficial.
Se você for um leitor que costuma ler romances policiais, ama Sherlock Holmes ou livros desse gênero, verá as pontas mal encaixadas conforme a história corre. Em vários momentos Echo desconfia de algumas pessoas que possuem aparência estranha ou alguns comportamentos suspeitos e vai investigá-los, isso faz com que nossa atenção seja desviada junto com a dela, ao mesmo tempo um personagem que ela não desconfia tem atitudes estranhas quando alguém da vida dela aparece. Entendeu? Essa única pessoa que mal aparece será o assassino. Por isso o mistério fica enfraquecido, já que até próximo à página duzentos já está tudo revelado (sim, em cem páginas o mistério é estabelecido, investigado e solucionado – fim do 2º ato).
As últimas cem páginas são sobre sua “redenção”. Ela permanece o livro TODO preocupada com o namorado vivo, e isso é chato. Os pais dela estão sofrendo, mas sua maior preocupação é com o namorado extremamente apaixonado por ela. Ao mesmo tempo um garoto fantasma lindo de lábios carnudos (pra variar) se apaixona por ela também.
Aí temos um triângulo amoroso fantasmagórico: o namorado que ama a garota morta e está em luto, o fantasma que ama a Echo e a ajuda a tentar passar para a pós vida. O desenvolvimento do último arco da história é lento e repetitivo, já que agora ela só precisa se despedir de quem ama e ainda está vivo...
Sobre os fantasmas do Orfanato não tem muito que dizer. Cada um recebe um poder assim que morre, geralmente ligado à forma da morte. Um garoto afogado consegue controlar a água, um eletrocutado tem domínio sobre a eletricidade, e por aí vai. Mas por a trama focar demais em Echo mal temos desenvolvimento dos outros que, sim, poderiam agregar muito à história.
Contudo, para isso, aparentemente o autor escreverá um segundo livro focado nas crianças do orfanato com Echo tentado ajudá-los a seguir em frente. Agora te pergunto: reparou que falei sobre “atos” na resenha? Então, comentei dessa forma porque a história é narrada como se fosse um filme. O autor estabelece personagens, cenários e etc., conforme conta o eixo principal, numa crescente. Isso se dá porque o escritor Temple Mathews é roteirista e diretor de filmes como Walt Disney: Peter Pan: De Volta à Terra do Nunca, A Pequena Sereia 2: O Retorno para o Mar e Aconteceu no Natal do Mickey.
Em A Garota do Orfanato Sombrio detalhes que geralmente vemos em livros não são tão aparentes, por exemplo: não temos descrições do clima e tempo, preocupação com detalhes da casa como pintura, formas dos móveis, etc., não há detalhes de distância e tudo encontra uma forma simples de se resolver.
Se você tiver por volta dos doze anos até os quinze e gostar de romances mais clichês, esse livro é pra você. Mas se já for leitor de histórias de investigação e mistério, a não ser que esteja realmente querendo algo bem mais fraco, esse livro não te satisfará.
Quanto à revisão não notei muita coisa ruim. O espaçamento e letra estão bons, as páginas são amareladas e facilitam no decorrer da leitura. Houve dois detalhes que acabaram por me fazer ficar um pouco com o pé atrás: em determinado momento Echo fala da Terra (planeta) e escreveram terra (com T minúsculo), e o uso excessivo de exclamações, dando um sentido de adolescente chata a muitas falas dela.

Commentaires