[Resenha] Ecos - Pam Muñoz Ryan
- Luana Alves
- 10 de jun. de 2018
- 4 min de leitura
Hey, pessoas musicais!
Comprei Ecos sem saber direito sobre o que se tratava. Havia visto por cima algumas postagens bem empolgadas sobre ele e vi que ele havia ganhado alguns prêmios importantes. A edição color blocking maravilhosa terminou de me convencer que ele merecia uma chance e olha eu aqui, perdida de amores por essa história.

TÍTULO: Ecos
AUTORA: Pam Muñoz Ryan
PÁGINAS: 354
EDITORA: Darkside
GÊNERO: Fantasia

“Seu destino não está selado.
Até na mais sombria noite
Uma estrela brilhará, um sino soará,
Um caminho será revelado. ”
O grande diferencial de Ecos é sua personagem principal. Ela não tem forma física, corpórea, mas tem uma força descomunal e um grande poder. E, ah, você a conhece. A protagonista de Ecos é a música.
A primeira parte do livro tem tudo o que um bom conto de fadas tem.
Cinquenta anos antes da Primeira Guerra, Otto se perdeu na floresta. Vagando por lá ele encontrou 3 irmãs em uma clareira que prometem ajudá-lo a encontrar a saída se ele as tirar de lá. Só que elas só podem sair da floresta em forma de som, dentro de um instrumento musical. Otto tem uma gaita e promete ajuda-las.
A partir de então o livro se divide em 3 contos breves, todos incríveis, de pessoas que em algum momento ficaram com a gaita de Otto. E de como a música foi de extrema importância para elas.
“Ele tentou se amparar com as coisas que Papai sempre dizia: Um pé na frente do outro. Siga em frente. Ignore os ignorantes. ”
O primeiro conto se passa em 1933 na Alemanha com o nazismo em ascensão. Conhecemos Friedrich, um garotinho que sonha em ser maestro. Com uma deformidade facial, Friedrich sabe que pode ser perseguido pelo governo que exige que sua população seja composta por uma raça pura, superior. Percebemos a insegurança que Friedrich carrega por conta de sua aparência, os dilemas da família por não concordar com os termos do governo vigente e todos os dramas que decorrem disso. E percebemos como a gaita, a música, dá a confiança que Friedrich precisa para lutar contra o Terceiro Reich.
“Vovó costumava dizer que a dor é a coisa mais pesada para se carregar sozinho. Então sei tudo a respeito disso. ”
Cerca de 100 páginas depois estamos nos EUA, em 1935. Conhecemos Mike e Frankie, dois irmãos que vivem em um orfanato e em condições bem difíceis. Mike, o mais velho, prometeu para a avó que cuidaria de Frankie e o esforço dele nesse sentido é lindo de se acompanhar! Eles fazem de tudo para que não os separem, mesmo quando aparecem famílias dispostas a levar somente um deles.
E eles descobrem que o que pode salvá-los é a música. Haverá um concurso para a maior banda de gaitas, os Magos da Gaita de Hoxie. Se eles forem aprovados, farão parte da banda e terão um lar.
A história de Mike e Frankie foi a que eu mais gostei. O desejo que eles têm de ser amados, a responsabilidade que Mike sente de cuidar de Frankie, o fato de serem tão educados, maduros e carentes... me emocionei muito com eles e com outras personagens que vão aparecendo, como o Sr. Howard e a Sra. Sturbridge.
“É sobre o que as pessoas querem, mas não têm. Não importa o quanto você não tem, sempre há muito mais na vida para se ter.
Vai sempre existir a mesma quantidade de “talvez as coisas melhorem em breve”.
Por fim, a gaita para na mão de Ivy, em 1942. Ela está de mudança para uma fazenda que era de uma família japonesa, mas, por conta dos acontecimentos em Pearl Harbor, eles foram enviados para um campo de concentração dentro dos EUA. A família de Ivy é descendente de mexicanos e ela acaba se confrontando com algo que ela nunca havia sentido: o preconceito.
O que Ivy acaba percebendo com o tempo é que:
“Música não tem raça! Todo instrumento tem uma voz que contribui. Música é uma linguagem universal.
Quase como uma religião universal. É certamente a minha religião. A música supera quaisquer distinções entre as pessoas.”
O fundo histórico, com um tema tão espinhoso, enriquece de forma maravilhosa a obra. A narrativa se concentrar na vida de crianças e de como todas elas tiveram a vida impactada pela guerra dá um tom triste, porém realista. A música entra como fonte de esperança e como elemento transformador na vida delas. E quem ousaria discordar do poder da música?
O final arremata de forma maravilhosa a viagem daquela gaita, que começou 50 anos antes da Primeira Guerra, que passou por tantas mãos e que cumpriu, por fim, seu destino. É sério, o final é lindo demais e eu fiquei muito emocionada, assistindo a um lindo concerto e pensando que sim, que por mais ruins que as coisas estejam, elas podem melhorar.
A edição da Darkside é sem palavras. Que edição linda! As fotos falam por si, né? E cada detalhe casa tão bem com a beleza da história que eu não canso de olhar e folhear esse bonitinho.
E esse mix que a Pam Muñoz Ryan fez, misturando conto de fadas, as grandes guerras e suas consequências para as crianças e a música, deu muito certo e merece todas as honras e prêmios que recebeu. Uma mistura ousada que vai fazer até mesmo quem não gosta de fantasia se render e se apaixonar por esta história.

Comments